terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Estudo Bíblico O Abuso do Dom de Línguas

É inegável o flagrante abuso do dom de línguas em nossos dias. Para alguns, o simples fato de possuírem o dom já os torna superiores ou mais espirituais que os demais. Ledo engano. A começar pelo fato de que o dom de línguas jamais foi evidência do batismo com o Espírito Santo, como em geral tem sido entendido atualmente. Na mesma passagem em que Paulo afirma que todos “fomos batizados em um só Espírito” (1 Co.12:13), ele pergunta: “Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?” (v.30b). Tal pergunta não faria sentido se a resposta fosse sim. Concluímos daí que nem todos os que são batizados no Espírito manifestam o dom de línguas. O que evidencia o batismo no Espírito é o profundo amor que é derramado em nossos corações. Confira:

“E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” Romanos 5:5

Se o falar em línguas fosse mais importante que isso, Paulo não teria dito: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine” (1 Co.13:1). Portanto, é preferível o amor sem línguas a línguas sem amor. O dom pode ser bom, mas o amor é o caminho mais excelente (1 Co.12:31). E mesmo quando todos os dons perderem a sua validade, o que permanecerá serão a fé, a esperança e o amor, “mas o maior destes é o amor” (1 Co.13:13). Não dá para rivalizar o menor dos dons com a maior das virtudes. Línguas sem amor não passam de barulho. Por mais que impressione os homens, não agrada a Deus.

A segunda verdade que precisamos considerar sobre o assunto é que todo cristão verdadeiramente regenerado pelo Espírito recebeu o batismo e o selo no momento em que creu no Evangelho. Leia atentamente:

“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com oEspírito Santo da promessa.” Efésios 1:13

Não se trata de uma experiência posterior à conversão, mas concomitante a ela. O que geralmente tem sido identificado como “batismo no Espírito Santo” é uma espécie de êxtase seguida da manifestação do dom de línguas. Não me atrevo a questionar a legitimidade da experiência, porém, recuso-me a chamá-la de batismo no Espírito.

Apesar de batizados no momento em que cremos, somos conclamados a encher-nos constantemente do Espírito (Ef. 5:18). Esta, portanto, é uma experiência que deve ser  contínua na vida do cristão e que deve ser buscada incessantemente. Encher-se do Espírito não é receber uma nova medida d’Ele, ou uma porção extra de Sua presença, mas sim submeter-nos cada vez mais à Sua vontade. Para receber porção dobrada do Espírito Santo, Ele teria que Se multiplicar por dois. Lembre-se que Ele é uma pessoa, não algo que possa ser medido. Deus não nos dá do Seu Espírito por medida (Jo.3:34). Portanto, ou O recebemos por inteiro, não O recebemos. Todavia, quanto mais nos submetemos a Ele, mas nos enchemos de Sua presença amorosa. Não se trata de receber mais d’Ele, e sim de Ele receber mais de nós.

Voltando à questão das línguas, importa verificar à luz das Escrituras que falar em línguas não nos torna mais espirituais. Os coríntios, para os quais Paulo enviou duas cartas, possuíam todos os dons do Espírito em abundância, porém, foram classificados como carnais (confira 1 Co.1:7; 3:1). Provavelmente, a igreja de Corinto era uma das mais pentecostais/carismáticas/renovadas de seu tempo. Sobrava carisma, faltava caráter.

O fato de Deus nos conferir um dom que não deu a outros não nos tornasuperiores, e sim servos dos demais. Não custa lembrar a exortação de Jesus: “E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc. 12:48).

Devido à mentalidade predominante em alguns círculos, onde falar em línguastornou-se sinônimo de status, muito abuso tem sido cometido. Quem fala emlínguas quer tornar isso notório, e para isso, não hesita em falar em alto e bom som durante os cultos. Alguns, no afã de chamarem ainda mais atenção, acrescentam manifestações bizarras como pulos, sapateados, tremedeiras, gritos, espasmos, etc. Tal exagero já ocorria na igreja de Corinto, resultando no apelo de Paulo por sua correção:

“Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento (…) Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?”1 Coríntios 14:18-20, 23

Paulo jamais usou o dom para exibir-se, e não encorajava ninguém a fazê-lo. Quer falar em línguas, fale consigo mesmo. Que razão haveria para alguém falar em línguas publicamente sem que houvesse interpretação? Quem seria beneficiado com isso? Se verdadeiramente somos batizados no Espírito, o amor derramado em nossos corações fará com que nos preocupemos muito mais com os outros do que conosco mesmo. O que um visitante vai pensar ao ver-nos exibindo nossos dotes espirituais? Que benefício nossos irmãos terão daquilo que dissermos em línguas estranhas?

A única concessão que Paulo faz à manifestação pública do dom de línguas é no caso de haver quem as interprete.

“E, se alguém falar em língua, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.” 1 Coríntios 14:27-28

O intérprete nem sequer precisa ser uma terceira pessoa. Se o próprio indivíduo puder interpretar os anseios produzidos pelo Espírito em Seu coração, ele poderá expressá-los em seu próprio vernáculo.

Não confundamos os dons. Línguas nada têm a ver com profecias. Quem profetiza fala aos homens. Quem fala em línguas fala exclusivamente a Deus. Então, por que careceria de intérprete? Para que os demais possam dizer “amém”. As línguas sempre visam a edificação de quem as fala, nunca a de outros. Mesmo quando interpretadas, seguem edificando quem as fala, porém, dá aos demais a oportunidade de colaborarem nesta edificação com sua concordância.

Dois extremos precisam ser evitados.  O primeiro é a desordem, onde todos falam em línguas em alta voz, sem qualquer preocupação com a edificação dooutro. O outro extremo igualmente perigoso é proibir qualquer manifestação dodom. Eis a recomendação apostólica:

“Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.” 1 Coríntios 14:39-40

Como recebê-lo?
Todos os dons estão disponíveis para o Corpo de Cristo. Todavia, Deus os distribui conforme o Seu propósito. Cada membro recebe dons através dos quais será útil aos demais.

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação daslínguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.”1 Coríntios 12:4-11

Portanto, o propósito de Deus deve prevalecer sobre a vontade humana. Entretanto, não podemos nos esquecer de que “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fl.2:13). De maneira que um desejo ardente de receber algum dom pode ser gerado pelo próprio Espírito e, por isso, deve ser buscado. Caso contrário, que sentido haveria na admoestação de Paulo para que busquemos “com zelo os melhores dons” (1 Co. 12:31)?

Porém, antes de buscarmos qualquer dom, devemos verificar quais são nossas reais motivações. Se forem a glória de Deus e o serviço aos nossos semelhantes, mui provavelmente tenham sido despertadas pelo Espírito. Mas se formos motivados por vaidade pessoal, porfia, inveja, ciúmes, Deus certamente não nos atenderá. 

domingo, 12 de fevereiro de 2017

O Perigo da Vaidade no Ministério


INTRODUÇÃO

O ministério eclesiástico, constituído de muitas funções a serem desempenhadas em favor da Igreja do Senhor, envolve de tal forma aqueles que a ele se dedicam, que exige tempo, esforço, preparo, unção e cuidado. Se o obreiro não souber administrar seu comportamento, com graça e vigilância, poderá ser vítima da vaidade ministerial, que tem levado muitos ao desprestígio e queda, diante de Deus, da igreja e dos homens. Solenemente proclama a Bíblia: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda" (Pv 16:18). Dessa forma, é imprescindível estar atento ao que se passa em torno do ministério. O perigo pode não estar longe, mas bem perto, dentro de cada um obreiro do Senhor. Além do sexo, dinheiro e poder, que são os três elementos mais comuns, usados pelo diabo para derrubar líderes, há outros, derivados desses, que minam as bases do ministério de muitos obreiros, levando-os a serem vaidosos no ministério. Vaidade vem de vanitate (lat.), com o significado de "vão, ilusório, instável ou pouco duradouro; desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens". Esse último significado, a propósito sublinhado, tem muito a ver com a vaidade no ministério.


O perigo da vaidade em relação ao sexo

Não é à toa que o sábio, escritor do livro de Provérbios, exortando o filho de Deus, ensina que é necessário ter sabedoria, bom siso e temor do Senhor, para se livrar da mulher adúltera, "que lisonjeia com suas palavras, a qual deixa o guia da sua mocidade e se esquece do concerto do seu Deus; porque a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas, para os mortos; todos os que se dirigem a elas não voltarão e não atinarão com as veredas da vida" (Pv 5.16-19).


Muitas vezes, por falta de vigilância oração, o obreiro acerca-se de mulheres, em seu trabalho, sem atentar para seu comportamento, não percebendo que armadilhas do diabo estão sendo colocadas diante de si. Não raro, é o pastor que tem como secretária uma jovem solteira, ou uma jovem senhora, carente de afeto, que se insinua e se oferece para satisfazer a carência afetiva do obreiro, muitas vezes afastado da esposa, por causa do "ativismo frenético", que não lhe deixa tempo para a família. E o homem de Deus, esquecendo-se das bênçãos que lhe são reservadas, troca a dignidade ministerial por um relacionamento ilícito e pecaminoso, para sua própria destruição. Um ponto crítico, alvo de tentação, é o aconselhamento, em sua maioria a mulheres da igreja.


Conheço casos de obreiros que perderam a reputação, o cargo e o ministério porque se deixaram envolver emocionalmente com pessoas aconselhadas, e caíram na armadilha do sexo. Diante de uma bela mulher, há obreiros que ficam vaidosos, sentindo-se como se fossem galãs conquistadores. Na verdade, estão sendo conquistados pelo diabo. É o velho comportamento de Esaú, trocando as bênçãos do ministério pelo prato de lentilhas do prazer imediato.

Não há outro caminho para escapar da queda, a não ser o temor de Deus, a vigilância, a oração (Mt 26.41) e o desenvolvimento de um relacionamento amoroso com a esposa, que envolva carinho, companheirismo e verdadeira afeição. A Bíblia diz: "Tem cuidado de ti mesmo..." (1 Tm 4.16).


A vaidade em relação do dinheiro

O dinheiro, em si, não é mau. A Bíblia não diz em nenhuma parte que o dinheiro é perigoso. Ela nos adverte quanto ao "amor do dinheiro", que é a "raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (1 Tm 6.10). Uma boa "prebenda" pode levar muitos à vaidade.

A Palavra de Deus é infalível. Aqueles que, na direção de igrejas, principalmente de grande porte, cuja renda mensal é considerada alta, não têm cuidado de vigiar no trato com recursos financeiros, acabam afundando na cobiça, esquecendo-se da missão, e tornando-se verdadeiros cambistas, negociantes e mercantilistas do tesouro da casa do Senhor. E isso é vaidade, futilidade. A vaidade e o poder que detêm os torna como se fossem donos do tesouro da igreja, e passam a gastar como bem querem e entendem, sem dar satisfação sequer à Diretoria, e muito menos à igreja, que se sente desconfiada, por nunca ouvir um relatório financeiro da tesouraria.

É lamentável, mas há obreiros que compram bens pessoais, ás custas do dinheiro dos dízimos e ofertas do Senhor. Certamente, a maldição os alcançará, pois estão sonegando os recursos destinado à Obra do Senhor. Essa vaidade é prejudicial ao bom nome da igreja. A Bíblia conta o que ocorreu com Gideão. Numa fase de sua vida, deixou-se levar pela direção de Deus, e foi grandemente abençoado, sendo protagonista de espetacular vitória contra os midianitas, à frente de apenas 300 homens (Jz 7).

Contudo, após a grande vitória, cobiçou o ouro de seus liderados, solicitando que cada um deles lhe desse "os pendentes de ouro do despojo", no que foi atendido pelos que o admiravam (Jz 8.24). Tentado pela cobiça do metal precioso, Gideão deixou que subisse para a cabeça o desejo de ter sua própria "igreja", levantando um lugar de adoração, com o ouro que lhe foi presenteado, mandando confeccionar um éfode, " e todo o Israel se prostituiu ali após dele: foi por tropeço a Gideão e à sua casa...e sucedeu que , quando Gideão faleceu, os filhos de Israel e se tornaram, e se prostituíram após dos baalins: e puseram Baal-Berite por seu deus" (Jz 8.27,32).

Tem razão a Palavra de Deus, quando adverte que "o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males...".


A vaidade do poder do cargo

Há obreiros que, enquanto dirigentes de pequenas igrejas, são humildes, despretensiosos e dedicados à missão que lhe foi confiada. Contudo, ao verem a obra crescer, fazendo-os líderes de grandes igrejas, esquecem de que "nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento" (1 Co 3:7), e passam a se comportar como verdadeiros imperadores ou ditadores eclesiásticos.

O cargo de pastor, do bispo ou do presbítero é de grande valor para a igreja. A Bíblia diz Deus deu pastores à igreja, ao lado de evangelistas e mestres, "querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.12). Aí está o objetivo do cargo ou da função pastoral.

Quando o ministro perde essa visão, acaba pensando que o cargo é fonte de poder pessoal, humano e carnal, e passa a usar a posição para a satisfação de interesses pessoais ou de grupos que se formam ao seu redor, e deixa-se dominar pela vaidade ministerial. Uzias, que reinou em lugar de seu pai, Amazias, aos dezesseis anos de idade, teve um grande ministério, aconselhando-se com Zacarias. A Bíblia diz que ele, "nos dias em que buscou o Senhor, Deus o fez prosperar" (2 Cr 26.3,5). Acrescenta, ainda a Palavra, que Uzias foi "maravilhosamente ajudado até que se tornou forte. Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o Senhor seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso" (2 Cr 26.15,16).

Esse episódio demonstra que a ilusão ou a vaidade do poder, oriundo da posição que o líder ocupa é fonte de comportamentos os mais estranhos e imprevisíveis. O diabo se aproveita das fraquezas da personalidade de certas pessoas, e incita-as a julgar-se grandes demais, a ponto de extrapolarem suas ações, agindo de modo ilegítimo, e contra a vontade de Deus. Uzias foi grandemente abençoado, até que, sentindo-se forte, ou seja, cheio de poder, entendeu que podia imiscuir-se nas funções que eram privativas do sacerdote de sua época. Porque ele fez isso? Porque se deixou dominar pela vaidade do poder.

É muito importante que o obreiro, no ministério, tenha consciência de que o poder que lhe sustenta não é o poder pessoal, nem o poder do cargo. O homem de Deus só pode ser sustentado e permanecer firme, se reconhecer que o poder vem de Deus. Davi disse: "Uma coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus" (Sl 62:11). S. Paulo, doutrinando aos efésios sobre as armas que são colocadas à disposição do crente, ensinou: "No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder" (Ef 6.10).

O poder que emana do cargo ministerial é passageiro. Da mesma forma, o poder que advém do dinheiro, da posição, da fama ou de qualquer outra fonte, tem raízes nas forças do homem, e não tem durabilidade, pois debaixo do sol tudo é vaidade, conforme diz o sábio escritor do Eclesiastes (Ec 1.14). Dessa forma, é melhor não se deixar dominar pela vaidade do poder, pois, um dia, quando o detentor do cargo tem que deixa-lo, seja por jubilação ou por outra razão, poderá sofrer muito, sentindo falta do poder de que foi detentor. Contudo, quando o homem de Deus não se deixa seduzir pela vaidade do poder, e confia no poder de Deus, ele pode sair do cargo de cabeça erguida, sem sentir carência da posição.


A vaidade na pregação

Um obreiro, pastor ou líder, à frente do trabalho, precisa ter mensagens para transmitir ao rebanho. A verdadeira mensagem é aquela que vem de cima, que flui do Espírito de Deus para o espírito do mensageiro, e passa para a igreja, com unção e graça, de modo que todos são tocados pelo poder de Deus, transbordando em amor, temor e alegria espiritual.

Esse tipo de mensagem só pode existir, se o obreiro buscar a presença de Deus, em oração e jejum. Certo pregador dizia que muitos lhe indagavam sobre o segredo de ter tanta unção para transmitir mensagens para o povo, ao que ele respondeu - "O segredo é que muitos oram cinco minutos para pregar uma hora; eu oro uma hora para pregar cinco minutos".

Infelizmente, há os que, conscientes de que possuem o dom da palavra, ou o dom da oratória, ficam orgulhosos, e passam a se comportar como se fossem meros oradores de palanques, procurando impressionar a igreja. Há até os pregadores profissionais, que se utilizam das técnicas de comunicação, para atrair os ouvintes; são portadores de mensagens "enlatadas", as quais só precisam de um "esquente" da platéia para arrancarem glórias e aleluias.
O uso da oratória, fundamentada numa boa orientação da Homilética, não faz mal a nenhum pregador. É um meio adequado que, submisso à unção do Espírito Santo, pode trazer muitos resultados abençoados para o engrandecimento do Reino de Deus. Um esboço de mensagem bem elaborado, com oração e jejum, com base na pesquisa da Palavra de Deus, e transmitido com humildade e dependência do Senhor é um recurso que dá firmeza ao pregador na sua alocução, na transmissão do sermão.

Entretanto, o obreiro, em sua prédica, não deve pensar que tais recursos são a razão do sucesso da mensagem que transmite. S. Paulo, extraordinário pregador, não confiou em sua formação privilegiada, aos pés de Gamaliel. Escrevendo aos coríntios, disse: "A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1 Co 2:4). Ele confiava na eloquência do poder, ao invés de se firmar no poder da eloquência. A vaidade na pregação faz com que certos evangelistas não se interessem por pregar para pequenas multidões. Seu ego só se satisfaz se lhe for assegurada a assistência de milhares de pessoas.


A vaidade no tratamento

Todo homem de Deus tem o dever de tratar bem às pessoas e o direito de ser bem tratado pelos que dele se aproxima,, pois não é uma pessoa qualquer, mas um servo de Deus, que está incumbido da missão mais importante da face da terra. A Bíblia diz: "a quem honra, honra" (Rm 13.7). Contudo, há aqueles que, dominados pelo sentimento vaidoso, extrapolam seus interesses, e passam a exigir um tratamento exagerado em torno de sua pessoa.

Conheci o caso de certo pregador, que, ao ser convidado para pregar num congresso, não se limitou a aceitar a passagem, a hospedagem e uma oferta da igreja. De antemão, exigiu que a passagem fosse enviada por determinada empresa aérea; que lhe fosse providenciada hospedagem num hotel de categoria internacional (cinco estrelas) para ele e sua esposa; e que também lhe fosse concedida um apartamento duplo para sua empregada e seus filhos, que deveriam acompanhá-lo. E foi atendido. Seu ego foi satisfeito, sua vaidade foi alimentada, às custas dos dízimos e ofertas de irmãos, em sua maioria pobres de recursos e de bens materiais.

Se não tivermos cuidado, vai haver pregador famoso, que poderá exigir até passagem para seu cão de estimação e tratamento "vip" para o animal. Vaidade e mercantilismos podem prejudicar muitos ministérios. Tenho visto que, no Brasil, há obreiros humildes, cheios da unção de Deus, mas, por serem jovens ou não serem famosos, são esquecidos, e nunca aproveitados em cruzadas e congressos.


A vaidade no ministério do louvor

Ao ministrar estudo num certo estado do Brasil, ouvi de irmãos que certo "cantor evangélico famoso" passara por ali, tendo exigido um cachê de quinze mil reais, com cinqüenta por cento adiantado, em depósito em sua conta; carro com ar condicionado, o melhor hotel da cidade.

E lamentavelmente, os irmãos se submeteram à vaidade exagerada daquele homem que, se aproveitando do que Deus fez em sua vida, passou a explorar certas igrejas, infelizmente dirigidas por pastores vaidosos , que só pensam em ver multidões, não importando o preço a pagar. Uma igreja denominacional, que desejava angariar recursos para a construção de um templo, resolveu convidar certo cantor, recém-convertido ao evangelho, esperando obter algum retorno para a obra.
O cantor, conhecido no mundo artístico brasileiro, exigiu, além de hotel de luxo, quase vinte mil reais, para cantar numa só noite, num grande estádio de futebol. Como resultado, as "entradas" não cobriram o "cachê" , a igreja teve prejuízo e amargou grande decepção. Sem dúvida, isso só acontece por causa da vaidade de tais pessoas, e da ingenuidade de certos pastores, que, desejando ver "a casa cheia", convidam celebridades para atrair o povo. A Bíblia nos mostra que o caminho para angariar recursos para a "manutenção" da casa do Senhor é a doutrina sobre a mordomia cristã, no que concerne aos dízimos e ofertas, conforme Malaquias 3.10.


Vaidade nas mordomias

No passado, quando o evangelho chegou à nossa terra, trazido por homens de Deus, que foram pioneiros no desbravamento da obra, as condições de trabalho eram duras e difíceis. Muitos deles andaram a pé, distâncias enormes, que os faziam fadigados e doentes; muitos percorreram os rincões do país, no lombo de cavalos, ou atravessando rios em canoas, sujeitos aos riscos de viagens sem segurança; muitos se hospedarem à margem dos igarapés, infestados de mosquitos e ameaçados por animais selvagens; tomaram água suja e chegaram a ser vitimados pela malária ou pela febre amarela. A eles, muito devemos, pelo seu desprendimento, coragem e fé.

Hoje, no entanto, em geral, vemos que Deus tem propiciado condições de trabalho muito melhores aos obreiros, por esse Brasil a fora. As igrejas maiores podem conceder aos pastores moradia condigna, transportes pessoais, seguro-saúde, salário compatível e muito mais. É verdade que em grande parte, há obreiros que passam necessidades, injustamente. Entretanto, há os que, aproveitando-se da bênção de Deus sobre as igrejas, abusam das mordomias.

Há casos em que o obreiro rejeita a casa pastoral, porque a esposa não gosta do estilo do prédio, e passam a exigir casa com tanto conforto e luxo, nas dependências, que consomem os recursos da igreja. É importante que o pastor more condignamente. Mas não é preciso exibir riqueza e luxo. Por outro lado, há obreiros que exigem salário tão elevado, além decombustível para o carro particular, pagamento de todas as despesas da casa, carro para levar os filhos na escola, empregada, arrumadeira, vigia, etc., que chamam a atenção dos murmuradores contra a obra do Senhor.

Com isso, não desconhecemos a necessidade de um obreiro, líder de um grande trabalho, ter um tratamento adequado ao nível de suas responsabilidades. Se a igreja tem condições, é compreensível. Mas o exagero nesse aspecto, denota vaidade e desejo de aparecer perante a comunidade.


A vaidade na formação teológica

Há pouco mais de vinte anos, quem quisesse estudar teologia, em muitas igrejas, era considerado excêntrico e vaidoso. Muitos que ousaram ingressar num instituto bíblico, tiveram que fazê-lo às suas expensas, sem qualquer ajuda da igreja à qual eram filiados, e ainda assim, considerados malvistos pela liderança. Os tempos passaram e, por razões as mais diversas, como a exigência de melhores conhecimentos bíblicos e teológicos, ou o receio de ver grupos oriundos de certas igrejas arrebanharem os jovens para os cursos considerados "perigosos", as lideranças resolveram investir na área do ensino teológico.

Na última década, proliferaram, no Brasil, os mais variados tipos de escolas, cursos, seminários, institutos, faculdades, etc. , voltados para o ensino teológico. Muitos desses cursos não têm a menor condição técnica, ou mesmo bíblico-teológica para ministrar o ensino, e têm formado um grande número de obreiros , portadores de diploma até de bacharelado em Teologia. Como resultado, passou-se de uma carência de pessoas com curso teológico, para uma grande quantidade de pessoas diplomadas, mas com formação que deixa a desejar, em termos de conhecimentos bíblicos e teológicos.

Alguns desses formados, são obreiros vaidosos, que, possuídos de sentimento de superioridade, passam a desprezar os não formados, considerandos incapazes de exercer o ministério. Isso constitui uma vaidade, que leva muitos a assomarem aos púlpitos, sem unção e sem graça, confiando nos conhecimentos obtidos. A Bíblia nos adverte: "Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento" (Pv 3.5). Não se deve discriminar os obreiros formados em Teologia. Eles podem ser uma grande bênção para a ministração do ensino, da pesquisa bíblica e da evangelização. Mas não se deve deixar que os conhecimentos tomem o lugar do preparo espiritual para a pregação do evangelho, que se obtém de joelhos, orando e jejuando , na presença do Senhor.

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