Não é de hoje que muitos cristãos acreditam na salvação das crianças que ainda não amadureceram o suficiente para crerem no Evangelho. Afinal, o Senhor Jesus afirmou que delas é o Reino de Deus (Mc 10.13-16). Crê-se que os tais infantes, caso venham a morrer, estarão protegidos pela graça preveniente de Deus e automaticamente salvos da condenação, haja vista não terem a capacidade de atender à condição exigida para o recebimento da salvação (cf. Mc 16.16).
Entretanto, alguns teólogos não acreditam na salvação de todas as crianças que partem para a eternidade sem terem maturidade para crer no Evangelho. Até mesmo os recém-nascidos podem ir para Inferno, caso morram nessa fase da vida. Tais teólogos baseiam sua tese no julgamento igualitário, na aliança familiar com Deus e ou na eleição soberana. Ou, ainda, numa combinação desses três elementos.
Teoria do julgamento igualitário. Os defensores do julgamento igualitário afirmam — acertadamente — que a inocência das crianças é apenas uma crença popular, haja vista serem elas pecadoras de nascimento (Sl 51.5; Rm 5.12). Mas eles erram ao não fazerem distinção entre pessoas mentalmente maduras e imaturas para crer no Evangelho.
De acordo com a Bíblia, as pessoas adultas, mentalmente maduras, quando creem no Evangelho, escapam da condenação, mas o Senhor não tira de dentro delas o pecado. Apesar de salvas pela graça, ainda possuem a natureza caída, a tendência para o mal (Rm 7.19-24). Como ilustração, Deus tirou os israelitas do Egito, sem tirar o Egito de seus corações. Por isso, sentiam saudades da vida velha. Jesus liberta os salvos do poder do pecado, e não da presença do pecado (Rm 6.12-14).
Isso significa que, apesar de sermos redimidos pelo sangue de Cristo, continuamos sendo pecadores por natureza (1 Pe 1.18,19; Rm 3.9). E, ainda que tenhamos a certeza da vida eterna e de que nenhuma condenação há para nós (Rm 8.1), estamos sujeitos a pecar (1 Jo 2.1; Lc 21.34). Não é, por conseguinte, o fato de não pecarmos que nos livra da condenação, e sim o recebimento, pela fé, da graciosa salvação em Cristo (Ef 2.8,9).
Embora as crianças mentalmente imaturas não sejam, de fato, inocentes de nascimento — posto que herdaram o pecado de nossos primeiros pais (Rm 3.23; 5.12) —, elas são puras e vivem num “período de inocência”, na prática, haja vista não conhecerem o pecado e o plano salvífico de Deus. Elas não têm o conhecimento do bem e do mal, o qual se evidencia por atitudes maliciosas e pela prática consciente do mal (Gn 3.7-11). Quanto ao julgamento divino, portanto, faz-se necessário distinguir-se entre as pessoas maduras e imaturas.
Teoria da aliança familiar com Deus. Alguns teólogos têm proposto — com base em passagens como 1 Coríntios 7.14 e Atos 16.31 — que as crianças pertencentes a um lar compromissado com o Senhor estão automaticamente salvas. Quanto às outras, mesmo não tendo a capacidade de discernir as coisas, o que lhes impossibilita de reconhecerem o seu pecado e crerem no Evangelho, estão condenadas. Consideremos as crianças que morrem ao nascer ou poucos dias depois de seus nascimentos. Seriam elas condenadas ao Inferno por não pertencerem a uma família cristã? E se, na sua família, apenas um dos pais for salvo?
Se crianças incapazes de raciocinar e crer no Evangelho podem ser condenadas, caso morram nessa fase, como conciliar isso com o princípio bíblico da justiça divina? Permitiria o Justo Juiz que criaturas suas entrassem no mundo por pouco tempo, com o único propósito de serem condenadas a sofrer por toda a eternidade? E, ainda, sem terem a mínima chance de defesa?
Em 1 Coríntios 7.14 está escrito: “Porque o marido descrente é santificado pela mulher, e a mulher descrente é santificada pelo marido. Doutra sorte, os vossos filhos seriam imundos; mas, agora, são santos”. Fica evidente, à luz do contexto, que esta passagem não trata de salvação eterna, e sim da influência positiva que um cônjuge pode ter sobre o outro, caso se converta (1 Pe 3.1,2). A prova de que uma pessoa salva não determina que cônjuge e filhos sejam igualmente salvos está em 1 Coríntios 7.16: “Porque, donde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, donde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”
Não é o fato de os pais serem salvos que garante a salvação da alma de seus filhos. Caso contrário, ao atingirem a maturidade, não precisariam crer no Evangelho (Jo 3.36), posto que já teriam recebido de antemão a salvação, em razão de pertencerem a uma família evangélica. Quando Paulo disse ao carcereiro de Filipos que, se ele cresse no Senhor Jesus Cristo, a sua família seria salva (At 16.31), fez essa afirmação no sentido de que a sua influência, como pai de família, levaria todos a receberem o Evangelho. Afinal, a salvação depende de uma decisão pessoal de cada um: “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Segue-se que a ideia da salvação por aliança familiar é antibíblica e se assemelha à tese romanista da salvação por batismo sacramentalista. De acordo com essa teoria, todas as crianças se tornam salvas após o sacramento, contrariando o princípio de que o batismo deve ser ministrado aos que têm maturidade para crer (Mc 16.16). Ademais, batismo não salva; trata-se de uma ordenança para quem já possui a certeza da salvação (Rm 6.1-14).
Teoria da eleição soberana. Outros teólogos, por sua vez, afirmam que existem crianças salvas e crianças perdidas, mesmo antes de nascerem, haja vista salvação e condenação decorrerem da eleição soberana de Deus. Ninguém menos que Calvino defendia esse pensamento! “Os pequeninos que recebem o sinal da regeneração e da renovação, se passam deste mundo antes de chegarem à idade da razão, caso tenham sido escolhidos pelo Senhor, são regenerados e renovados pelo seu Espírito, como lhe apraz, segundo o seu poder, para nós oculto e incompreensível” (As Institutas [2006], III.11).
Os defensores desse argumento dizem que é totalmente equivocada a ideia de que as crianças imaturas herdam o Reino de Deus automaticamente só por serem incapazes de crer no Evangelho. Alegam — acertadamente — que o termo grego toiouton, em Mateus 19.14, não se refere à salvação de crianças, e sim às pessoas que se assemelham a elas. Mas, na passagem correlata de Marcos 10.14-15, está escrito: “Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele”.
Em outras palavras, as crianças são tão puras, simples, humildes, que foram tomadas para exemplificar como devem ser os adultos verdadeiramente convertidos (Mt 18.1-4). E, se os infantes são o padrão para os que hão de herdar o Reino de Deus, por que a alguns deles seria negada a entrada no Céu? O que o texto em apreço quer dizer, em última análise, é que, assim como o Reino de Deus é recebido pelas crianças, também o será por aqueles que se fizerem semelhantes a elas.
Outra passagem citada em defesa da suposta condenação antecipada de crianças é Marcos 9.21-22. Esta mostra que um rapaz estava possuído — antes de ter sido liberto por Jesus Cristo — por um espírito mudo desde a sua infância. No entanto, o fato de o Senhor ter expulsado o demônio daquele rapaz não o transformou em uma pessoa salva, visto que a salvação da alma depende de arrependimento e fé (At 3.19; Rm 10.9,10). O Senhor apenas deu àquele jovem a oportunidade de, a partir daquele momento, pela livre-vontade, segui-lo (cf. Lc 9.23).
Se a expulsão de demônios da vida de uma pessoa não lhe garante a salvação de imediato, sendo necessários, ainda, o arrependimento e a fé, não se pode, também, afirmar que uma criança mentalmente imatura esteja sentenciada ao Inferno pelo fato de não ter, por si mesma, como se defender do ataque de espíritos malignos. Afinal, muitas crianças que sequer conseguem falar e andar direito já são atormentadas e apresentam comportamento estranho, resultante de possessão ou influência demoníaca.
Por outro lado, alguns teólogos têm afirmado, também de modo errôneo, que todas as crianças, pelo simples fato de serem consideradas imaturas mentalmente, estão salvas, exatamente por causa disso. Esse conceito é antibíblico e extremado, porque a salvação sempre se dá pela graça de Deus, e não por nossos méritos (Tt 2.11; Rm 3.20). Podemos, no entanto, crer que Deus oferece a salvação — mediante a obra expiatória já realizada na cruz por Jesus Cristo — às crianças que não têm idade para prestação de contas, visto que elas não possuem maturidade para crer (Jo 3.36; Mc 16.16). A salvação delas se dá pela graça preveniente, e não simplesmente por serem crianças.
No Trono Branco, todos os mortos condenados comparecerão diante do Juiz para receberem a sentença. E o julgamento de cada um desses ímpios se dará “segundo as suas obras” (Ap 20.12,13). No caso das crianças mentalmente imaturas, como o Senhor as condenaria ao Lago de Fogo segundo as suas obras se elas sequer tiveram a oportunidade de entender o que são tais obras? Essa suposta condenação seria mesmo baseada no fato de a criança não ter pertencido a uma família cristã nem eleita para a vida eterna?
A Palavra de Deus enumera, em Apocalipse 21.8 e 22.15, as más obras que condenarão os ímpios ao Inferno: “quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicários, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte. Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”. De quais más obras o Justo Juiz acusaria os infantes que sequer alcançaram a maturidade necessária para entender o que é pecado?
Diante do exposto, conquanto seja difícil estabelecer-se precisamente a fase da imaturidade de uma criança, se a morte de uma pessoa ocorrer nesse período da vida, ela seria alcançada pela graça preveniente de Deus: “dos tais é o Reino de Deus” (Lc 18.16,17). Essa argumentação me parece bastante lógica, mas não posso ser dogmático, nesse caso. Mesmo assim, tenho certeza de que, seja qual for o critério usado pelo Senhor, Ele jamais condenará pessoas ao Inferno de antemão, de modo arbitrário, visto que Ele não é um Deus cheio de ódio, um sádico que tem prazer em condenar o pecador, e sim o Justo Juiz, um Deus cheio de misericórdia (Gn 18.23-33; Jo 3.16-36).
Entretanto, alguns teólogos não acreditam na salvação de todas as crianças que partem para a eternidade sem terem maturidade para crer no Evangelho. Até mesmo os recém-nascidos podem ir para Inferno, caso morram nessa fase da vida. Tais teólogos baseiam sua tese no julgamento igualitário, na aliança familiar com Deus e ou na eleição soberana. Ou, ainda, numa combinação desses três elementos.
Teoria do julgamento igualitário. Os defensores do julgamento igualitário afirmam — acertadamente — que a inocência das crianças é apenas uma crença popular, haja vista serem elas pecadoras de nascimento (Sl 51.5; Rm 5.12). Mas eles erram ao não fazerem distinção entre pessoas mentalmente maduras e imaturas para crer no Evangelho.
De acordo com a Bíblia, as pessoas adultas, mentalmente maduras, quando creem no Evangelho, escapam da condenação, mas o Senhor não tira de dentro delas o pecado. Apesar de salvas pela graça, ainda possuem a natureza caída, a tendência para o mal (Rm 7.19-24). Como ilustração, Deus tirou os israelitas do Egito, sem tirar o Egito de seus corações. Por isso, sentiam saudades da vida velha. Jesus liberta os salvos do poder do pecado, e não da presença do pecado (Rm 6.12-14).
Isso significa que, apesar de sermos redimidos pelo sangue de Cristo, continuamos sendo pecadores por natureza (1 Pe 1.18,19; Rm 3.9). E, ainda que tenhamos a certeza da vida eterna e de que nenhuma condenação há para nós (Rm 8.1), estamos sujeitos a pecar (1 Jo 2.1; Lc 21.34). Não é, por conseguinte, o fato de não pecarmos que nos livra da condenação, e sim o recebimento, pela fé, da graciosa salvação em Cristo (Ef 2.8,9).
Embora as crianças mentalmente imaturas não sejam, de fato, inocentes de nascimento — posto que herdaram o pecado de nossos primeiros pais (Rm 3.23; 5.12) —, elas são puras e vivem num “período de inocência”, na prática, haja vista não conhecerem o pecado e o plano salvífico de Deus. Elas não têm o conhecimento do bem e do mal, o qual se evidencia por atitudes maliciosas e pela prática consciente do mal (Gn 3.7-11). Quanto ao julgamento divino, portanto, faz-se necessário distinguir-se entre as pessoas maduras e imaturas.
Teoria da aliança familiar com Deus. Alguns teólogos têm proposto — com base em passagens como 1 Coríntios 7.14 e Atos 16.31 — que as crianças pertencentes a um lar compromissado com o Senhor estão automaticamente salvas. Quanto às outras, mesmo não tendo a capacidade de discernir as coisas, o que lhes impossibilita de reconhecerem o seu pecado e crerem no Evangelho, estão condenadas. Consideremos as crianças que morrem ao nascer ou poucos dias depois de seus nascimentos. Seriam elas condenadas ao Inferno por não pertencerem a uma família cristã? E se, na sua família, apenas um dos pais for salvo?
Se crianças incapazes de raciocinar e crer no Evangelho podem ser condenadas, caso morram nessa fase, como conciliar isso com o princípio bíblico da justiça divina? Permitiria o Justo Juiz que criaturas suas entrassem no mundo por pouco tempo, com o único propósito de serem condenadas a sofrer por toda a eternidade? E, ainda, sem terem a mínima chance de defesa?
Em 1 Coríntios 7.14 está escrito: “Porque o marido descrente é santificado pela mulher, e a mulher descrente é santificada pelo marido. Doutra sorte, os vossos filhos seriam imundos; mas, agora, são santos”. Fica evidente, à luz do contexto, que esta passagem não trata de salvação eterna, e sim da influência positiva que um cônjuge pode ter sobre o outro, caso se converta (1 Pe 3.1,2). A prova de que uma pessoa salva não determina que cônjuge e filhos sejam igualmente salvos está em 1 Coríntios 7.16: “Porque, donde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, donde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”
Não é o fato de os pais serem salvos que garante a salvação da alma de seus filhos. Caso contrário, ao atingirem a maturidade, não precisariam crer no Evangelho (Jo 3.36), posto que já teriam recebido de antemão a salvação, em razão de pertencerem a uma família evangélica. Quando Paulo disse ao carcereiro de Filipos que, se ele cresse no Senhor Jesus Cristo, a sua família seria salva (At 16.31), fez essa afirmação no sentido de que a sua influência, como pai de família, levaria todos a receberem o Evangelho. Afinal, a salvação depende de uma decisão pessoal de cada um: “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Segue-se que a ideia da salvação por aliança familiar é antibíblica e se assemelha à tese romanista da salvação por batismo sacramentalista. De acordo com essa teoria, todas as crianças se tornam salvas após o sacramento, contrariando o princípio de que o batismo deve ser ministrado aos que têm maturidade para crer (Mc 16.16). Ademais, batismo não salva; trata-se de uma ordenança para quem já possui a certeza da salvação (Rm 6.1-14).
Teoria da eleição soberana. Outros teólogos, por sua vez, afirmam que existem crianças salvas e crianças perdidas, mesmo antes de nascerem, haja vista salvação e condenação decorrerem da eleição soberana de Deus. Ninguém menos que Calvino defendia esse pensamento! “Os pequeninos que recebem o sinal da regeneração e da renovação, se passam deste mundo antes de chegarem à idade da razão, caso tenham sido escolhidos pelo Senhor, são regenerados e renovados pelo seu Espírito, como lhe apraz, segundo o seu poder, para nós oculto e incompreensível” (As Institutas [2006], III.11).
Os defensores desse argumento dizem que é totalmente equivocada a ideia de que as crianças imaturas herdam o Reino de Deus automaticamente só por serem incapazes de crer no Evangelho. Alegam — acertadamente — que o termo grego toiouton, em Mateus 19.14, não se refere à salvação de crianças, e sim às pessoas que se assemelham a elas. Mas, na passagem correlata de Marcos 10.14-15, está escrito: “Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele”.
Em outras palavras, as crianças são tão puras, simples, humildes, que foram tomadas para exemplificar como devem ser os adultos verdadeiramente convertidos (Mt 18.1-4). E, se os infantes são o padrão para os que hão de herdar o Reino de Deus, por que a alguns deles seria negada a entrada no Céu? O que o texto em apreço quer dizer, em última análise, é que, assim como o Reino de Deus é recebido pelas crianças, também o será por aqueles que se fizerem semelhantes a elas.
Outra passagem citada em defesa da suposta condenação antecipada de crianças é Marcos 9.21-22. Esta mostra que um rapaz estava possuído — antes de ter sido liberto por Jesus Cristo — por um espírito mudo desde a sua infância. No entanto, o fato de o Senhor ter expulsado o demônio daquele rapaz não o transformou em uma pessoa salva, visto que a salvação da alma depende de arrependimento e fé (At 3.19; Rm 10.9,10). O Senhor apenas deu àquele jovem a oportunidade de, a partir daquele momento, pela livre-vontade, segui-lo (cf. Lc 9.23).
Se a expulsão de demônios da vida de uma pessoa não lhe garante a salvação de imediato, sendo necessários, ainda, o arrependimento e a fé, não se pode, também, afirmar que uma criança mentalmente imatura esteja sentenciada ao Inferno pelo fato de não ter, por si mesma, como se defender do ataque de espíritos malignos. Afinal, muitas crianças que sequer conseguem falar e andar direito já são atormentadas e apresentam comportamento estranho, resultante de possessão ou influência demoníaca.
Por outro lado, alguns teólogos têm afirmado, também de modo errôneo, que todas as crianças, pelo simples fato de serem consideradas imaturas mentalmente, estão salvas, exatamente por causa disso. Esse conceito é antibíblico e extremado, porque a salvação sempre se dá pela graça de Deus, e não por nossos méritos (Tt 2.11; Rm 3.20). Podemos, no entanto, crer que Deus oferece a salvação — mediante a obra expiatória já realizada na cruz por Jesus Cristo — às crianças que não têm idade para prestação de contas, visto que elas não possuem maturidade para crer (Jo 3.36; Mc 16.16). A salvação delas se dá pela graça preveniente, e não simplesmente por serem crianças.
No Trono Branco, todos os mortos condenados comparecerão diante do Juiz para receberem a sentença. E o julgamento de cada um desses ímpios se dará “segundo as suas obras” (Ap 20.12,13). No caso das crianças mentalmente imaturas, como o Senhor as condenaria ao Lago de Fogo segundo as suas obras se elas sequer tiveram a oportunidade de entender o que são tais obras? Essa suposta condenação seria mesmo baseada no fato de a criança não ter pertencido a uma família cristã nem eleita para a vida eterna?
A Palavra de Deus enumera, em Apocalipse 21.8 e 22.15, as más obras que condenarão os ímpios ao Inferno: “quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicários, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte. Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”. De quais más obras o Justo Juiz acusaria os infantes que sequer alcançaram a maturidade necessária para entender o que é pecado?
Diante do exposto, conquanto seja difícil estabelecer-se precisamente a fase da imaturidade de uma criança, se a morte de uma pessoa ocorrer nesse período da vida, ela seria alcançada pela graça preveniente de Deus: “dos tais é o Reino de Deus” (Lc 18.16,17). Essa argumentação me parece bastante lógica, mas não posso ser dogmático, nesse caso. Mesmo assim, tenho certeza de que, seja qual for o critério usado pelo Senhor, Ele jamais condenará pessoas ao Inferno de antemão, de modo arbitrário, visto que Ele não é um Deus cheio de ódio, um sádico que tem prazer em condenar o pecador, e sim o Justo Juiz, um Deus cheio de misericórdia (Gn 18.23-33; Jo 3.16-36).
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