A DESPENSA VAZIA
Texto Áureo: Sl. 37.25 – Leitura Bíblica: II Rs. 4.1-7
INTRODUÇÃO
O salmista diz: “fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl. 37.25). Esse texto é uma constatação a partir da experiência do homem de Deus, mas não pode ser aplicado a todas as situações. Conforme estudaremos na lição de hoje, é possível que o cristão passe por privação financeira, pela experiência da dispensa vazia.
1. UMA DISPENSA VAZIA
Em II Rs. 4.1-7 está escrito a respeito da viúva que ficou em situação de privação financeira por causa da morte do marido. E, em conformidade com a lei, os filhos poderiam ser tomados como escravo, quando houvesse um débito a ser quitado (Ex. 21.7; Ne. 5.5). O profeta Eliseu demonstrou interesse pela necessidade da viúva, perguntou-lhe o que ele poderia fazer: “o que tens em casa?”. A mulher nada tinha em casa, a não ser uma botija de azeite (v. 2). O profeta percebeu que a mulher não tinha sequer utensílios para colocar azeite extra, por isso a orientou para que tomasse mais vasilhas emprestadas, detalhe importante “não poucas” (v. 3). Por revelação profética, Eliseu sabia que Deus realizaria um grande milagre. As vasilhas que foram tomadas por empréstimo foram sobrenaturalmente cheias de azeite. Enquanto havia vasilhas, o milagre não cessou, somente quando a última vasilha estava cheia. Essa é uma demonstração de que o milagre tem um propósito. Alguns pregoeiros televisivos querem transformar o milagre em um espetáculo. Mas Deus sabe o que fez e tem Seus designíos. A mulher, por sua vez, demonstrou sua fé em Deus ao obedecer à palavra profética. Ela fez tudo o que o profeta ordenou, a obediência é a manifestação da fé na Palavra de Deus. O objetivo da abundância de azeite multiplicado era a preservação da vida da mulher e dos seus filhos. É comum alguns usarem esse texto bíblico para propagarem a famigerada teologia da prosperidade (ou da ganância). Primeiramente ela deveria pagar ao credor, e depois, viver com o restante do azeite. O ensinamento cristão bíblico é o da porção de Agur (Pv. 30.8) é o de viver na dependência do Senhor, na porção acostuma, e o cristão, é o de orar pelo “pão nosso de cada dia” (Mt. 6.11),
2. QUANDO FALTA PROVIMENTO
Como toda e qualquer pessoa, o cristão pode passar por situações de escassez de alimento. Vivemos em um mundo caído, a ganância predomina, os interesses pessoais costumam ser colocados acima dos comuns. A economia gira em torno do mercado, que praticamente é adorado como um deus. A tecnologia e a falta de educação implicam em falta de competitividade, por conseguinte, o desemprego pode chegar quando menos se espera. Como a mulher que ficou nas mãos do credor, o cristão também pode ficar à mercê das dívidas. Esse não deve ser motivo para desespero, o melhor é evitar contrair dívidas que nos prive do “pão nosso de cada dia”. Mas, em tudo, devemos aprender a confiar em Deus. A crise atual pela qual passa a Europa está conduzindo muitos ao suicídio. Na Grécia, o número de suicídio aumentou mais de 40%, gerando preocupação para as autoridades. A maturidade espiritual é manifestada diante das crises, inclusive as financeiras. Os grandes milagres da Bíblia atraem nossa atenção, adoramos ouvir pregações sobre Elias no Carmelo, desafiando os profetas de Baal, ou de Davi contra Golias, o gigante filisteu. Esses mesmos homens de Deus também tiverem seus momentos difíceis, Elias esteve sozinho, ameaçado por Jezabel, e Davi se angustiou enquanto estava na caverna de Adulão. Ao contrário do que se costuma pregar hoje em dia, Deus está mais interessado na maturidade espiritual do cristão do que em sua prosperidade material. A dispensa vazia pode ser inclusive um momento de disciplina, um aprendizado para que o cristão passe a confiar mais no Senhor (Rm. 8.28; Hb. 12.6,7).
3. ASSISTÊNCIA ECLESIÁSTICA
A assistência social da igreja, em momentos de despensa vazia, é projeto de Deus. A instituição diaconal, em At. 6, visava suprir a carência das viúvas que estavam em situação de pobreza extrema. É bem verdade que o governo precisa investir na diminuição da pobreza, tanto “dando o peixe”, mas também “ensinando a pescar”. Dentro do contexto eclesiástico, os diáconos devem estar atentos às necessidades dos irmãos mais pobres. Os casos dignos de cuidados devem ser levados à liderança da igreja a fim de que atitudes cabíveis sejam tomadas. O enfoque na riqueza advindo da teologia da prosperidade está nos tornando insensíveis a uma realidade patente aos nossos olhos. A pobreza existe, a Bíblia trata a respeito do assunto com prioridade, o Deus das Escrituras se interessa pela causa dos necessitados. Jesus exerceu Seu ministério público em direção aos mais pobres (Lc. 4.18,19; 17.22-19; 21.1-4; Mt. 6.1-4). Na verdade não foi Jesus que fez opção pelos pobres, foram estes que fizeram opção por Ele, como ainda acontece nos dias atuais. Ao invés de criticarem os pobres, aqueles que estavam com a “dispensa vazia”, Jesus esteve do lado deles, ajudando-os e se opondo aqueles que os oprimiam (Mt. 19.21; Lc. 12.33; 14.12-14; 18.22). Paulo, o apóstolo dos gentios, orientou os crentes da Galácia a fim de que se lembrassem dos pobres (Gl. 2.10) e fez coletas a fim de suprir a necessidade dos mais carentes da igreja (Rm. 15.26; I Co. 16.1-4; II Co. 8.9). É bem verdade que não podemos resolver todos os problemas sociais do país, mas podemos pelo menos amenizar as carências dos mais pobres, a esse respeito o Apóstolo também instrui para que façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos na fé (Gl. 6.10).
CONCLUSÃO
Cada caso de “dispensa vazia” deve ser avaliado com sabedoria, sobretudo com amor cristão. Há situações em que a falta de alimento não é resultado de preguiça, mas de contratempos que todos podem passar. A orientação geral bíblica é o trabalho, para não depender dos outros (I Ts. 2.9; II Ts. 3.8), mas a igreja deve ser sensível à realidade daqueles que não conseguem sair da zona de pobreza extrema. O amor deve ser exercitado não “só de palavras” (I Jo. 3.16-18), mas também com ações, pois para as boas obras fomos salvos, para que andemos nelas (Ef. 2.10).
Fonte José Roberto A. Barbosa